Eu sei que este tipo de posts longos tem tendência a ser mal encarado porque demora muito tempo a ser lido e normalmente só a imagem e o título é que chamam à atenção, mas acreditem que vale mesmo a pena ler...
O “Pedro” é um menino ainda, mora na aldeia, e estuda na pequena escola primária da sua freguesia nos arredores de Braga. Adora futebol, e no intervalo das aulas, todos os dias joga “à bola” com os poucos amigos que lhe servem de companhia nas aulas. Em casa, já sem os amigos, imagina no muro uma baliza como as que apenas na televisão viu até então. Não tem clube favorito, e confessa que quando diz que é sportinguista , diz apenas para fazer o pai feliz, pois ele também o é! Nascido no seio de uma família com poucos recursos, nunca entrou num estádio, e apenas viu o do Braga… por fora! Gostava de um dia entrar num estádio, ver como é, aprender todas as regras que no recreio da escola não se utilizam, saber o que é fora-de-jogo, saber porque é que a barreira não fica só a três passos do sítio onde foi marcada a falta, saber o que é uma claque, porque não se sentam, porque estão sempre a cantar, todas as curiosidades de um miúdo, que ainda nem fez 8 anos, acabado de chegar a um mundo totalmente novo. No último fim de semana expliquei-lhe que eu era braguista (palavra que ele desconhecia), que ia ver muitos jogos e já fui a muitos estádios, tentei explicar-lhe que mesmo quando o Braga perde eu continuo a gostar dele. Embalado pelo entusiasmo de mostrar o quão realizado e feliz me sinto em ser braguista, esqueci-me do sentimento que estava a provocar no miúdo, esteve sempre calado enquanto me ouvia com atenção e estranhei a ausência de perguntas por parte dele. Quando deparei com tal silêncio parei de falar. O miúdo olhou para mim com ar abatido e os olhos a brilhar e disse-me: “ Um dia, já há muito tempo, ainda nem tinha pedido as prendas ao Pai Natal, fui a Braga e passei perto do estádio. Estava a estrada cheia de carros, muitas pessoas com cachecóis e eu perguntei ao meu pai porque estava ali tanta gente, e ele disse que era por jogar o Braga, como eu gosto de futebol pedi-lhe para irmos ver. Ele parou o carro e foi até onde se compra os bilhetes, quando veio entrou no carro e disse que não podíamos ir porque os bilhetes eram muito caros. Nesse dia fiquei triste, e a partir daí, imagino-me no recreio da escola e aqui em casa a jogar no estádio do Braga, no meio daquelas pessoas todas a gritar. Por causa disso na quarta-feira tive um sonho. Enquanto estava a dormir sonhei que tinha um cachecol do Braga e um bilhete para ir ver o jogo e estava a ir para o estádio, mas depois acordei. Gostei muito daquele sonho, mesmo tendo acordado antes de entrar no estádio. Mas foi só um sonho. Como o meu pai não tem dinheiro para comprar os bilhetes não posso ir. Quando eu for grande, vou trabalhar muito, para poder ir ver um jogo de futebol!”. Continuei calado com um aperto no peito e uma lágrima ao canto do olho enquanto olhava a cara dele. Não consegui dizer mais nada e apenas sorri para disfarçar a dor, ele pegou na bola e foi marcar mais golos contra o muro. Esta semana soube da possibilidade de um sócio do Braga com cadeira anual poder obter um ingresso. Vou buscar o bilhete, comprar o cachecol e realizar o sonho do pequeno “Pedro”. Sei que ele vai ficar feliz, sei que nunca se vai esquecer deste dia e sei que de hoje em diante será mais braguista… Quantos Pedros existem por aí à espera de concretizar o sonho? Quantos novos braguistas estão a ser criados?
Texto retirado de http://nemecrui.blogspot.com/
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